Lino Geraldo Resende*
O político e a política têm sido muito execrados nos últimos tempos no Brasil e chegamos ao ponto de questionar os dois, que são as pedras basilares da democracia moderna. O político encarna, pelo menos para a opinião pública, tudo o que há de ruim no país. E a política, como consequência desse padrão de opinião, é vista como algo sujo, não nobre, que pode ser descartado, de que não vale a pena participar.
Mas será que é verdade? Vamos começar com a política. Em uma democracia, é a política que faz a intermediação entre o que é público e o que é privado. Com isso, transforma o que o privado deseja – olhando a tendência da opinião e o atendimento da maioria – em interesse público. É a política, também, que fornece a esfera para a discussão dos problemas, a busca de suas soluções e permite, assim, que eles sejam de conhecimento da maioria, não ficando restritos a grupos de interesse ou aos que fazem parte do poder.
É neste momento que Governo e Oposição cumprem seu papel. O Governo, de um lado, preocupado em atender às demandas sociais. E a Oposição, de outro, mostrando os problemas existentes, chamando a atenção para eles e, com isso, transformando-os em questões públicas de que a política vai cuidar e procurar meios de atender e apaziguar estes clamores. Sem este exercício, no qual a política é fundamental, não teríamos democracia, pelo menos não como ela está estruturada hoje.
Já disse Zigmunt Baumann que a ditadura é o fim de toda política. Se não há espaço público para discussão, não há liberdade de opinião, de imprensa, de manifestação, o público acaba inteiramente colonizado por interesses privados, de grupos de interesse, ocupado pelos lobbies e afastando o cidadão, que sequer toma conhecimento do que se debate, apenas vê o que é decidido como um fato consumado. A democracia – que só existe mediante o exercício político – é o contrário disso. Nela, as coisas são abertas. E é esta abertura que permite o debate, a crítica, enfim, o exercício da política.
E os políticos? Eles são os agentes da política, os intermediários entre o cidadão e o poder. São eles que – no Governo e na Oposição – levam os problemas a público, chamando a atenção para eles. Para tanto, contam que a liberdade de opinião, de manifestação e de imprensa. E é essa liberdade, exatamente, que permite a crítica a quem, no exercício de um cargo político, comete uma ação ou ato que a opinião pública acha condenável. Tal como a política, em uma democracia o papel do político é fundamental.
Política e políticos são passíveis de críticas, podem ser contestados, podem tomar boas ou más ações. E são as boas ou más ações que dão longevidade ou tornam curta a vida dos políticos e da representação que fazem da sociedade. Neste caso, o exercício político permite que o eleitor diga: não, não o quero como meu representante. E não o reeleja. Sem a política, isso não seria possível.
Um outro aspecto em relação ao político é que, pelo menos no caso dos eleitos, eles ocupam as posições que têm graças ao eleitor. Fomos nós, em última análise, que os colocamos lá. E se eles não fazem um bom trabalho, em princípio, a culpa é nossa, que não soubemos escolher bem. Isso, contudo, não nos impede de corrigir o erro, não o elegendo novamente.
A boa política – e, por consequência, a existência de bons políticos – está diretamente relacionada à qualidade do voto. Se o eleitor vota mal, terá maus políticos. Se faz uma melhor seleção, os políticos melhoram. E quando melhor forem os políticos, melhor será a política, o que vai refletir em favor do cidadão.
O fato é que não existe democracia sem política e sem políticos. As experiências feitas mostraram que, sem os dois, não é possível o exercício democrático. E quando a democracia se afasta, o que temos é muito pior do que a pior política e os piores políticos. Neste caso, pelo menos podemos saber o que estão fazendo, tornando públicas suas ações e permitindo que o cidadão saiba também. Na ausência da política, isso não é possível.
A democracia – seja qual for o seu nível – demanda o exercício da política e, nele, a existência de políticos. Os dois são fundamentais ao exercício democrático. E nisso todos os que estudam este campo concordam. O que precisamos fazer, então, é melhorar a política e os políticos. E isso, repito, só irá acontecer quando votarmos melhor.
Lino Geraldo Resende é jornalista, advogado, professor e Mestre em História Política.