Deputado Rodrigo Maia
Presidente do Democratas

“Enquanto isso…” ( repetindo um dos famosos pregões da Rádio Nacional para avisar aos ouvintes sobre a mudança de cena e assunto) o povo americano, ainda sem ter recuperado o fôlego da crise econômica, envolve-se numa discussão nacional sobre a proposta do presidente Barack Obama para uma profunda reforma da saúde nos Estados Unidos.

Eu sei que cada pais é uma realidade diferente, mas, sinceramente, como deputado federal e dirigente de um dos quatro maiores partidos nacionais, sinto inveja dos políticos americanos que se envolvem numa discussão conseqüente e útil. Para mim, política é isso: promover o bem comum, cada um apresentando sua proposta, discutindo, atacando e defendendo idéias. Especialmente quando se trata da uma reforma do sistema de saúde, que é um dos problemas mais graves em toda parte e que, tenho certeza, nós não estamos em melhor vantagem que os americanos.

Em vez de enfrentarmos intrigas, esses dolorosos e vergonhosos casos de corrupção e impunidade que hoje dominam as discussões políticas do Brasil (chagando ao absurdo do próprio o Presidente da República sugerir ao Ministério Público tratamento diferenciado, na hora de investigar crimes, conforme a biografia do acusado) bem que podíamos estar trabalhando em reformas e avanços sociais reclamados pelo povo brasileiro.

Nos Estados Unidos, o empenho de Obama é tão forte (pois ele está cumprindo uma promessa de campanha) que a oposição, o Partido Republicano, luta para derrotá-lo avisando que – se perder nas votações do Congresso – o Presidente estará como Napoleão depois da Batalha de Waterloo, ou seja, irreversivelmente enfraquecido.

Há dois meses, no interior da Bahia, lancei junto com companheiros de partido, um grande projeto, a Agenda Família, que é uma proposta para enfrentar o problema da pobreza nas suas causas profundas, e que não implica apenas em saciar a fome, mas em articular todos os fatores de promoção social – educação, saúde, habitação, cultura, lazer – de forma racional e conseqüente.

Lançamos a proposta da Agenda Família, que está no ar, mas a política brasileira, especialmente o Governo, foge ao debate, foge às votações no Congresso de reformas realmente relevantes. A verdadeira política – com P maiúsculo, com se dizia antigamente – é o principal instrumento da participação popular do regime democrático, uma vez que evita os erros das decisões solitárias dos governantes. No Brasil, os governos evitam submeter seus projetos ao debate nacional, que se realiza nas ruas, através dos jornais e debates no rádio e TV, como nos Estados Unidos. Entre nós, limitam-se a aliciar individualmente deputados e senadores oferecendo cargos e verbas em troca da aprovação de projetos.

Com 56% de apoio popular, segundo as pesquisas, e apenas seis meses de Governo, Barack Obama enfrenta sua grande batalha para garantir seguro saúde a 46 milhões de americanos e que implicará em despesas avaliadas entre 1 bilhão e 1,5 bilhão de dólares.

Um pais dividido entre diferentes projetos de assistência à saúde do povo é bem melhor que estar dividido entre acusados de corrupção e abusos, pois não são casos de política, mas de polícia e Justiça.

Da minha parte, insisto, não desisto: acredito que se pode fazer política construindo uma sociedade moderna e justa.