Em um emocionado discurso da tribuna da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, o Deputado Elcio Alvares lembrou e contou como surgiu a decisão de construir uma terceira ligação entre Vitória em Vila Velha. Um dos fatores foi o trânsito, com congestionamentos que duravam até duas horas para quem se deslocava de Vila Velha para a Capital ou no sentido contrário. Outro foi a visãoi de futuro, com o crescimento econômico experimentado pelo Espírito Santo a partir da implantação de projetos como o da Companhia Siderúrgica de Tubarão, hoje Acerlor Mittal Tubarão.

Ao iniciar seu pronunciamento, o Deputado anunciou que fará outros discursos, sempre abordando fatos históricos de que participou, colocando a verdade histórica no seu lugar e deixando-a registrada nos anais do Legislativo Capixaba. Outro anúncio feito por Elcio foi que, ao completar 80 anos, pretende entregar aos capixabas um livro de memórias, onde irá detalhar toda a sua vida política, do diretório estudantil no Colégio Americano ao Senado, a Ministro e a Deputado Estadual.

NO INÍCIO

Alvares lembrou que, no dia 23 de agosto, fazem 22 anos do início da construção da Terceira Ponte e foi este aniversário que o estimulou a colocar os fatos e perspectivas e contar como o projeto nasceu. A idéia já foi ventilada na primeira reunião do Secretariado, logo após ter assumido o Governo do Espírito Santo, em 1975. Nela, além de traçar os rumos gerais do Governo, cuja base seria a preocupação com o social, a construção de uma nova ligação entre Vila Velha e Vitória foi abordada pela primeira vez.

“Tínhamos o desejo de construir a nova ligação, mas não tínhamos dinheiro. Então, o Secretário Belmiro Teixeira Pimenta, dos Transportes, lembrou que o Bandes tinha uma linha de financiamento que poderia ser usado para financiar o projeto. Os contatos foram feitos, o financiamento concedido e, então, damos inicio ao projeto”, comentou o Deputado, lembrando do encontro mantido com o Engenheiro Figueiredo Ferraz, cujo escritório foi o responsável pelo projeto. Neste primeiro encontro com os responsáveis pelo projeto Elcio disse que a obra deveria respeitar a paisagem, preservando o Convento da Penha, e os mangues, daí a ponte ser em curva. “Isso nos custou alguns milhares de dólares a mais no projeto”, lembra.

O Estado tinha conseguido dar início ao projeto, mas não tinha dinheiro para a sua execução, já que quando Elcio assumiu o Governo o funcionalismo estava com seis meses de atraso e o Estado não tinha dinheiro em caixa. A alternativa seria a tomada de um empréstimo externo,mas o Estado precisava, para ele, do apoio do Governo da União e de sua aprovação pelo Senado Federal. No discurso Elcio lembrou, então, da vinda ao Espírito Santo do Presidente Ernesto Geisel, que faria a inauguração da primeira usina da Samarco. Era o dia 24 de agosto de 1978.

O Governador foi, então, recepcionar o Presidente no Aeroporto de Vitória e, com ele, seguiria de helicóptero até Anchieta, para a inauguração da Samarco. No percurso, Elcio pediu ao Presidente se poderiam sobrevoar a baía de Vitória, pois queria lhe mostrar onde ficaria a Terceira Ponte. Com a concordância de Geisel o sobrevôo foi feito e o Governador explicou ao Presidente a importância da obra, olhando em perspectiva o futuro do Estado. Segundo ele, Geisel ouviu, mas não falou nada.

A CONSOLIDAÇÃO

Uma semana depois da visita, o Governador Elcio Alvares recebeu um telefonema do Palácio do Planalto o convocando. O Presidente Geisel queria falar com ele. “Vivíamos os tempos do regime militar e fiquei preocupado, pois não sabia do que se tratava”, conta. Ao chegar ao Palácio do Planalto – depois de uma viagem de carro, pois não viajava de avião, devido ao medo – Elcio foi para o Gabinete do Ministro Golbery do Couto e Silva, da Casa Civil, que lhe pediu para aguardar. Pouco depois, o Presidente chamou e foram para o seu Gabinete.

“O Presidente nos recebeu, abriu uma gaveta e, dela, retirou um papel, que eu não sabia do que se tratava. Com a sua letra miúda, ele assinou o papel e o passou para mim dizendo que era a exposição de motivo ao Senado Federal solicitando autorização para um empréstimo de 37 milhões de dólares para a construção da Terceira Ponte. O Presidente me disse que eu poderia ficar com uma cópia da mensagem”, informou Elcio no seu discurso.

Diante da decisão, ele retornou imediatamente ao Espírito Santo e começou a tomar as providências para o início da obra. Primeiro, determinou ao Secretário do Planejamento, Wantuyr Zanotti, que fosse a Londres assinar, em nome do Estado, o contrato do empréstimo, já negociado pelo Ministro João Paulo dos Reis Velloso, do Planejamento. O sonho tinha virado realidade e no mês de setembro a obra foi lançada do lado de Vitória, já que o projeto estava pronto, iniciando-se, imediatamente, as obras.

No início de janeiro de 1979 foi iniciado o primeiro pilar em Vila Velha. Preocupado com a continuação da obra, o Governo do Estado pediu à Usimec, que havia sido contratada para tocar a obra, que cuidasse dos pilares dentro do canal de Vitória, fazendo logo suas fundações. “Queríamos tornar irreversível a obra, garantindo que ela fosse terminada”, lembrou o Deputado, lamentando que o Governo que o sucedeu tenha paralisado a obra e até feito piada com ela. As obras da Terceira Ponte, depois do Governo Elcio Alvares, foram retomadas no Governo Gérson Camata, seguindo até a sua conclusão.

Ao longo do pronunciamento, o Deputado Elcio Alvares fez questão de destacar a participação de alguns personagens no planejamento feito para o Espírito Santo e, sobretudo, para a Grande Vitória, dando uma visão de conjunto ao que seria feito. Citou, expressamente, os economistas Arlindo Vilaschi e Stélio Dias, que participaram, desde o início da Fundação Jones dos Santos Neves, um centro de inteligência criado pelo Governo do Estado, capaz de pagar bons salários e reunir jovens entusiastas que queriam planejar o futuro do Estado.

Outro nome destacado foi o do Senador Moacyr Dalla, então Presidente do Congresso Nacional. Elcio lembrou que sua participação foi importante para a retomada das obras da ponte, com a aprovação de uma nova linha de crédito ao Governo do Estado. Ao longo do discurso Elcio fez referência, ainda, aos Secretários Belmiro Teixeira Pimenta, dos Transportes, Maria José Velloso Lucas, da Casa Civil, Romualdo Gianórdoli, da Ação Social e aos presidentes do DEO e Comdusa, respectivamente Laerce Machado e Paulo Monteiro.

OBRAS SOCIAIS E APARTES

Ao longo do seu discurso Elcio lembrou que, apesar das obras feitas no Estado, como a própria Terceira Ponte e a Rodoviária de Vitória, a preocupação maior do seu Governo foi com o social. Citou, como exemplo, a construção de mais de 22 mil residências, com a criação de vários bairros que, hoje, são centros importantes nos municípios de Vila Velha e Vitória. Lembrou também a assistência aos mais carentes, feitas através da Secretaria comandada por Romualdo Gianórdoli e, muitas vezes, com a presença do próprio Secretário. Ressaltou, ainda, que o projeto do Governo foi abrangente, para todo o Estado, pensando no futuro.

Um dos projetos que Elcio lamenta não ter conseguido realizar foi a fusão de Vitória e Vila Velha. Segundo ele, a união dos dois municípios era uma coisa natural e acabaria beneficiando os dois. “Perdi a eleição por 320 votos, com uma campanha de todos os vereadores e candidatos a Prefeito em Vitória trabalhando contra”, lembrou, dizendo que, hoje, acha que uma diferença tão pequena foi, na verdade, uma vitória.

No final do pronunciamento, o Deputado Elcio Alvares foi aparteado pelos colegas. O primeiro deles foi o Deputado Nílton Baiano. Ele relatou a visita de alguns amigos da Bahia ao Espírito Santo que comentaram ao passar pela Terceira Ponte como seria Vila Velha sem ela. “O Espírito Santo lhe deve muito e precisamos saber honrar e reconhecer o valor do homem público que é”, afirmou o Deputado.

Já o Deputado Luciano Rezende comentou que aprendeu a admirar o homem público Elcio Alvares através de sua mãe, já falecida. E lembrou-se de um discurso do Governador no Álvares Cabral, onde era remador. Segundo o parlamentar, mesmo durante o regime militar o Governador Elcio Alvares teve uma conduta republicana. “V. Exa. não enriqueceu com a política e honra a Assembleia Legislativa com a sua presença”, afirmou Rezende, destacando que as obras feitas pelo Governo dignificam Vitória. E concluiu: “O Espírito Santo deve muito a V. Exa e por isso deve lhe prestar todas as homenagens”.

Já o Deputado Marcelo Coelho lembrou sua relação de amizade com Elcio, de quem foi Secretário na gestão da Assembleia Legislativa, assegurando que o Deputado Elcio Alvares “é um exemplo de como os políticos devem seguir na vida pública e um ser humano extraordinário”, o que o transforma em referência como Deputado Estadual. O Deputado José Carlos Elias lembrou o início divergente com o Deputado Elcio Alvares, pois fazia parte da oposição, mas ressaltou as obras desafiadoras do Governo na gestão de Elcio, dizendo que ele merece reconhecimento pelo trabalho feito. Destacou, ainda, a sua atuação em Brasília, quando líder do Governo Fernando Henrique Cardoso, quando abria todas as portas para o Estado, e a implantação do Ministério da Defesa.

O Deputado Freitas afirmou que, para ele, é uma honra compartilhar a vida pública “com o Deputado Elcio Álvares”, lembrando que são homens diferentes que constroem uma vida pública como a do Deputado e ressaltou a sua importância para o desenvolvimento do Espírito Santo. “V. Exa. e o ex-Governador Paulo Hartung foram responsáveis por viradas no Espírito Santo, colocando-o no rumo certo”, afirmou. Retomando o discurso, Elcio se comprometeu a levar novos fatos históricos à tribuna da Assembleia, mostrando sua participação neles e como ocorreram e reafirmou o desejo de publicar livro de memórias em que todos estes fatos serão narrados.

Em aparte, o Deputado Theodorico Ferraço lembrou a longa trajetória que tem junto com Elcio, destacando a “sua honestidade única, que não pode ser colocada em dúvida”, além da conduta ilibada ao longo de toda sua vida política. “V. Exa. tem uma vida política exemplar”, afirmou. Ao finalizar, o Deputado Elcio Alvares disse que todos os dias, ao acordar, ora para que o Senhor lhe dê sempre humildade e reafirmou que, de todos os cargos públicos que ocupou até hoje o que tem lhe dado maior prazer é o de Deputado Estadual.

Após o término do discurso, o Presidente da Assembleia Legislativa, Deputado Rodrigo Chamou, citou Bertold Brecht, teatrólogo e pensador alemão, que classificou os homens que lutam a vida inteira como imprescindível, dizendo que este é o caso do Deputado Elcio Alvares. Lembrou, ainda, de quando tomou posse em uma Secretaria no Governo Paulo Hartung, o seu pai lhe dizendo que Elcio e Hartung tinham sido os dois governadores que mais fizeram pelo município de Guarapari.