Durante aproximadamente duas horas o Deputado Elcio Alvares falou sobre a sua trajetória política dentro do programa Contando Histórias, da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), lembrando que entrou na política de modo não planejado, pois iniciava sua carreira de advogado e pensava concentrar-se na profissão. Sua primeira disputa foi para Deputado Federal, quando ficou como primeiro suplente e só assumiu o mandato praticamente no final da legislatura, quando há havia sido eleito com a maior votação do Estado.
Como Deputado Federal efetivo, foi o responsável por relatar projetos importantes para o Governo, como o que criou o Colégio Eleitoral, permitindo a eleição do Presidente Ernesto Geisel, embora só tenha feito parte da Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados devido à boa vontade de uma servidora, que o incluiu na relação de efetivos. Nesta Comissão conviveu com Djalma Marinho, Célio Borja e José Bonifácio de Andrade. Elcio lembrou que da mesma época em que começou o mandato foram deputados como Marco Maciel, Alceu Collares, Lysâneas Maciel e, no caso do Espírito Santo, Adalberto Simão Nader.
NO GOVERNO
O segundo passo na vida política foi o Governo do Estado. Elcio relatou que não esperava a indicação, já que o Senador Eurico Rezende tinha o apoio das principais lideranças políticas do Estado e contava com suporte forte do Senador Filinto Muller, um dos mais prestigiados do Congresso. Sem se considerar candidato, foi instruído pelo Senador Petrônio Portella a vir ao Espírito Santo participar da Missão Portella, que ouviu os pretendentes ao Governo do Espírito Santo. “Entrei para a reunião e, nos 15 minutos que lá fiquei, nada se falou sobre a sucessão estadual, nem me perguntaram qualquer coisa sobre o Estado”, lembrou o parlamentar.
Elcio soube de sua indicação em reunião com o Senador Portella na casa dele. Foi comunicado que seria anunciado como o candidato ao Governo e que o Deputado José Carlos da Fonseca seria o candidato ao Senado. Os dois tinham se elegido contrapondo-se, já que Fonseca tinha o apoio do Governo e Elcio era seu adversário, tendo conquistado o suporte de todos os que eram contrários ao Governo Christiano Dias Lopes Filho. Eleito Governador de forma indireta, disse que encontrou o Estado em situação muito difícil, com o salário do funcionalismo com três meses de atraso e o dos professores, com seis. Não havia, segundo ele, recursos suficientes nem para cobrir as despesas de custeio.
A solução veio quando participou de reunião no Palácio do Planalto junto com os Governadores do Sudeste. Nela, foi o último a falar, depois de ouvir as lamentações de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro. Começou dizendo que, ao contrário dos outros Estados, o Espírito Santo tinha contribuição de 6 bilhões de dólares para dar ao Brasil, alinhando os investimentos que seriam feitos no Espírito Santo e concluindo que, para que isso se realizasse, precisava de ajuda. Ela veio algum tempo depois na forma de empréstimo do Banco do Brasil, o que lhe permitiu colocar o pagamento dos servidores em dia e colocar em ordem as finanças do Estado.
No depoimento, Elcio destacou duas ações do seu Governo. A primeira foi a Rodoviária de Vitória, inaugurada já no final do seu período e que, pelo projeto original, era muito maior do que atualmente, com novos módulos, parque e hotel. O projeto foi escolhido em concurso nacional, vencido pelo arquiteto Carlos Fayet e está no Instituto Jones dos Santos Neves. A outra ação foi o início da Terceira Ponte, no que destacou o apoio recebido do Presidente Geisel. Foi ele quem autorizou o empréstimo de 40 milhões de dólares que permitiu o início da obra.
O Deputado lamentou a paralisação das obras da ponte depois de deixar o Governo, mas ressaltou que havia deixado dinheiro em caixa para o seu prosseguimento, com a decisão de paralizá-la sendo política, não pela falta de recursos. Reconhecendo que chegaram a considerá-lo louco quando anunciou o projeto, afirmou sentir muito orgulho da obra e da engenharia montada para a sua realização, que não previa a cobrança de pedágio.
NO SENADO
Do Governo, Elcio voltou à advocacia. “Sou um homem pobre, que depende do próprio trabalho e por isso voltei ao meu escritório de advocacia, retomando a atividade jurídica”, explicou. No entanto, não deixou de lado a política, buscando a indicação da Arena para disputar a sucessão de Eurico Rezende, que o havia sucedido no Governo. Ele acabou perdendo a convenção por quatro votos e disse que só bem mais tarde descobriu que as cédulas estavam marcadas, com o Governo sabendo quem votou nele ou no candidato oficial, Carlito von Schilgen, que havia sido seu Vice-Governador.
A eleição foi, então, vencida pelo Deputado Federal Gérson Camata por uma grande margem. Elcio reconhece que seus eleitores, desiludidos pelo fato de não ter conseguido a indicação, acabaram votando em Camata, contribuindo para a vitória da Oposição no Estado. O Deputado tentou, quatro anos depois, chegar ao Governo, no que considera uma derrota consagradora. Começando com uma larga vantagem nas pesquisas, acabou sendo derrotado pelo Plano Cruzado, quando o Governo ganhou em praticamente todos os Estados. No caso do Espírito Santo, ele era oposição.
Magoado e entristecido, pensou em não mais envolver-se na política e, como na saída do Governo, retornou à advocacia. Foi convencido por Nilton Gomes, Edson Machado e José Luiz Correa a disputar o Senado, elegendo-se. Como Senador, foi logo escolhido Vice-Líder do Governo Collor, mas foi, também, quem presidiu a Comissão de Impeachment que levou ao afastamento do Presidente Fernando Collor. Com a chegada de Itamar Franco ao Governo, foi escolhido Ministro da Indústria, Comércio e Turismo e participou das discussões que levaram à adoção do Plano Real.
MINISTRO DA DEFESA
Com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, voltou ao Senado e foi escolhido Líder do Governo pelo novo Presidente, com quem havia convivido no próprio Senado e no Ministério de Itamar Franco. Nesta posição, ficou durante o primeiro mandato de Fernando Henrique. No final, disputou a reeleição, mas acabou perdendo para o então Deputado Paulo Hartung. Com a derrota, Elcio pretendia voltar à advocacia, mas foi escolhido pelo Presidente para implantar o Ministério da Defesa, acabando com os Ministérios Militares e unificando-os sob comando civil. Comandou o processo de transformação, aproveitando-se do seu relacionamento no Congresso, e ao término foi convidado para ser o primeiro titular e o primeiro civil a assumir a Defesa no Brasil, transformando-se no comandante de todas as Forças Armadas.
Elcio contou que ao tomar posição de não pagar fatura de empreiteira, de mais de 10 milhões de dólares, começou a sofrer campanha de difamação, sendo apresentado como líder do crime organizado no Espírito Santo. Como a campanha foi tomando um crescendo, procurou o Presidente Fernando Henrique e lhe disse que não mais continuaria no Ministério da Defesa, mas não iria pedir demissão, pois achava que, com isso, admitiria as acusações que lhe foram feitas. Segundo ele, o Presidente relutou, mas concordou com sua posição. Ao sair do Palácio do Planalto, cercado pelos jornalistas disse apenas: Saio do Ministério mais amigo do Presidente Fernando Henrique de que quanto nele entrei!.
O Deputado leu, então, carta que lhe enviou, após deixar Brasília, retornando ao Espírito Santo e à advocacia, mais uma vez, o Presidente Fernando Henrique, que agradece a dedicação e competência com que se dedicou à implantação do Ministério da Defesa, chamando-o de amigo e dizendo que havia prestado grandes serviços ao país, graças ao seu espírito de homem público. Elcio leu, ainda, carta do Senador Antonio Carlos Magalhães, que elogia sua atuação no Senado e no Governo.
DEPUTADO ESTADUAL
De volta ao Espírito Santo, depois de ter deixado o Ministério da Defesa, Elcio retornou suas atividades de advocacia, mas acabou, por inspiração do Governador Paulo Hartung, candidatando-se à Assembleia Legislativa. Segundo ele, em uma reunião com a presença do Secretário Sérgio Aboudib – hoje Conselheiro do Tribunal de Contas – o Governador lhe disse que sua eleição engrandeceria o Legislativo e pediu que disputasse, com o que acabou concordando, sendo eleito Deputado Estadual depois de ter sido Deputado Federal, Senador, Ministro e Governador do Estado.
Na Assembléia foi Líder do Governo nos dois primeiros anos de mandato, fazendo a articulação entre o Palácio Anchieta e os Deputados Estaduais. Na segunda metade do mandato foi escolhido pela unanimidade dos Deputados para ser o novo Presidente do Legislativo. Foi a primeira vez, na história do Espírito Santo, que um parlamentar chegou à direção do Legislativo Estadual com os votos de todos os seus pares. Uma das medidas tomadas por Elcio foi a reforma administrativa da Assembleia, com corte de gastos, concurso público e diminuição do número de servidores comissionados. Ainda na Presidência, Elcio disputou o seu segundo mandato de Deputado Estadual, que está cumprindo.