Volta, Elcio: campanha memorável

As pesquisas eram favoráveis, o povo enchia as ruas e cantava o jingle, mas o Plano Cruzado foi o fator decisivo na eleição e Elcio Alvares perdeu a disputa pelo Governo.

Ao final do seu mandato como Governador, Elcio Alvares retornou à advocacia, reiniciando uma caminhada que havia interrompido oito anos antes, ao assumir o mandato de Deputado Federal. Ao mesmo tempo em que exercia o seu mister profissional, continuava conversando com lideranças partidárias e aliados políticos sobre a situação no Estado. E foram estes aliados e lideranças que o levaram a uma candidatura ao Governo do Espírito Santo, agora através do voto direto, no que seria a primeira eleição com voto direto para Governador.

Apesar de ter ampla simpatia popular, como mostravam as pesquisas de opinião pública da época, Elcio Alvares não tinha o apoio e a simpatia do seu sucessor. O candidato do Governador ao Palácio Anchieta era o médico Carlito von Schilgen, que fora Vice-Governador de Elcio Alvares. Os dois foram para a disputa na convenção da Arena que escolheria o candidato do partido. Com o peso do Governo a seu favor, Carlito acabou ganhando a convenção e enfrentou nas urnas o Deputado Federal Gerson Camata, que saiu como candidato de oposição, concorrendo ao Governo pelo MDB.

Com a derrota, Elcio Alvares, apesar das ofertas do Governo, de uma candidatura ao Senado ou a qualquer outro posto que desejasse, não aceitou participar da eleição. O projeto de voltar ao Governo, eleito pelo povo que o tornou um dos governadores mais populares do Espírito Santo, tinha sido adiado, mas não terminado. O candidato do Governador perdeu a eleição, derrotado pelo seu opositor e Elcio Alvares continuava como o líder político mais popular do Estado, ainda cotado para disputar o Palácio Anchieta nas próximas eleições. Na sucessão de Gerson Camata, ele foi escolhido por unanimidade pelo seu partido para disputar o Governo do Estado.

Foi a campanha do “Volta, Elcio”, cuja música foi cantada em todo o Espírito Santo e uma das mais memoráveis campanhas eleitorais que o Estado já teve e que ficou na lembrança do povo. O jingle dizia, dentre outras coisas, que o povo queria Elcio Alvares de volta ao Governo e as pesquisas de opinião pública pareciam confirmar isso, com o candidato conseguindo largas margens na preferência popular sobre o seu adversário político. Com o envolvimento popular, a eleição era dada como certa pelos meios de comunicação e pelos analistas políticos do Estado.

O Brasil vivia o momento da hiperinflação, com preços sendo remarcados todos os dias, com o valor do dinheiro diminuindo a cada hora. Qualquer medida de estabilização de preços ganhava o apoio popular e faltando pouco mais de dois meses para a eleição, o então Presidente José Sarney anunciou a instituição de plano que congelava os preços, garantindo a manutenção do poder aquisitivo da população e evitava qualquer tipo de remarcação de produtos.

Chamado de Plano Cruzado, ele foi anunciado como capaz de mudar os rumos do Brasil. O que aconteceu, na verdade, é que mudou os rumos da eleição. O MDB, partido de Sarney, que vinha enfrentando problemas em vários Estados, inclusive o Espírito Santo, venceu a eleição de ponta a ponta. Desde o lançamento do plano, os rumos eleitorais no Estado também mudaram, com o candidato do MDB e do Governo, crescendo, com os índices de Elcio Alvares caindo. Nas ruas, a população continuava cantando o “Volta, Elcio”, mas na hora de votar, o voto foi para o candidato do Governo, que venceu as eleições por pequena margem e chegou ao Palácio Anchieta.

O projeto de Elcio Alvares de retornar ao Governo com votos diretos dos eleitores havia terminado. Depois da eleição, o candidato anunciou que iria abandonar a política e dedicar-se exclusivamente à advocacia, retornando ao escritório que continuava a manter e arquivando quaisquer projetos de concorrer a um novo cargo eleitoral.

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